quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Cagada em três actos

Os leitores mais assíduos do Sempre a Produzir sabem que futebol, em especial o futebol nacional, não é o meu forte, já que não ligo a jogos insípidos, e de fraca qualidade, em que os jogadores passam mais tempo no chão e a inventar faltas do que, propriamente, a jogar à bola, com garra e espectáculo, como se vê noutros campeonatos além fronteiras.

Há uns dias atrás falava do lirismo luso, personificado por Gilberto Madaíl, o Presidente da nossa ilustríssima Federação Portuguesa de Futebol, e desta mania de armar ao pingarelho, ao pensar que as estrelas da selecção de futebol são o supra sumo.

Ontem, entre a loucura diária que é dar de jantar à cria, as notícias sobre o casal McCann e a vontade de ver um episódio da série 24, lá fui vendo o jogo da selecção e, sinceramente, posso dizer que foi uma perda de tempo.

A meu ver, o jogo faz jus e exemplifica, na perfeição, a expressão, já antiga, que dá título a este post, “Cagada em três actos”.

O primeiro acto, de curta duração, foi composto pelo fulgor, determinação e vontade de jogar da selecção lusa, que culminou com um golo, soberbamente marcado, de Simão Sabrosa.

A selecção ainda continuou, por mais uns minutos, com esta capacidade ofensiva e até podia ter dilatado o resultado, não fosse o cabelinho do Nuno Gomes ter dado uma direcção deficiente, em alguns centímetros, à bola que esbarrou no poste em vez de entrar na baliza.

Sim, porque, da mesma maneira que um nadador profissional rapa os pelos para reduzir, ao máximo, o atrito com a água, também os futebolistas deviam ter mais cuidado com as cabeleiras que ostentam e com a quantidade de gel fixante que usam.

O segundo acto, começou na altura em que Portugal baixou, como é seu apanágio, o ritmo de jogo e se deixou dominar pela selecção contrária.

Não se entende como é que jogadores profissionais, e com o calibre tão apregoado, perdem, tão facilmente, a concentração e se deixam subjugar pela responsabilidade que têm face à necessidade de obter um determinado resultado.

Este segundo acto durou uma eternidade e só acabou quando a Sérvia, depois de já ter comandado o jogo e ameaçado por diversas vezes, marcou o golo do empate, a poucos minutos do fim da partida.

Um golo injusto, porque o gajo estava em claro fora de jogo, mas um golo justíssimo, se for visto na perspectiva de castigo ao mau futebol praticado pela equipa cá do burgo, e porque, independentemente, da posição irregular, ou não, do jogador da Sérvia, o homem apareceu isolado, e sem qualquer tipo de marcação, num local absolutamente proibido, tendo tido tempo para fazer o que bem lhe apeteceu com a bola.

Findo o segundo acto, ficaram quatro míseros minutos para o terceiro, aquele em que se assistiu ao derradeiro baixar de braços da selecção de Portugal, caracterizada, sobretudo, por uma clara falta de clarividência e por um nervosismo exacerbado dos jogadores lusos, traduzidos em passes falhados e faltas estúpidas.

O terceiro acto, e, consequentemente, o jogo, findou com a maior das cagadas, com o mau perder luso-brasileiro a vir à tona, os jogadores, ansiosos, a perderem todo o “fair play” e o seleccionador luso a intrometer-se numa pseudo rixa entre Quaresma e um jogador sérvio, só porque lhe deve ter passado pela cabeça que o “minino” não teria caparro suficiente para aguentar uns empurrões, e que a sua própria musculatura, típica da idade que já tem, é que iria resolver o problema.

Em jeito de conclusão, a populaça, tristonha e desanimada com a merda em que vive diariamente, merece melhor do que esta selecção de estrelas, que, salvo raras excepções, só mostram a sua verdadeira garra quando sentem o cheiro dos milhões que lhes são oferecidos nos clubes em que jogam, e deve exigir mais empenho e determinação.

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