segunda-feira, 21 de abril de 2008

Acordo ortográfico luso-mundial

Nos diversos meios de transporte, é frequente ver anúncios daquelas casas de câmbios que negoceiam o envio de euros para os países de origem, em russo ou ucraniano ou coisa que o valha.

Hoje de manhã, passei por uma daquelas maquinetas que tiram quatro fotografias apressadas para os passes, que se podem encontrar em qualquer estação de comboios ou metropolitano, e reparei, ainda que de relance, que o preço das fotos estava em Português e, por baixo, em chinês ou japonês.

Vamos ao All-garve e, na grande maioria dos restaurantes, as ementas são-nos apresentadas em inglês, alemão e, só depois, em Português.

Frequentemente, ou melhor, mais do que frequentemente, a populaça negra fala num dos inúmeros dialectos vindos de Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné ou algum outro país que agora me escapa, e a populaça local fica ás aranhas, apanhando palavras soltas que não levam a nenhuma conclusão.

Até me podem estar a chamar nomes ou a mandar-me para o pénis que me fecunde, que não percebo nada e, na volta, ainda olho para eles e sorrio, como quem acha piada à maneira interessante como se exprimem.

Isto já para não falar na catrefada de indianos que podemos encontrar cá no burgo e que, fruto de uma linguagem de trapos totalmente imperceptível, até podem estar a planear um atentado ao vizinho do lado porque, à populaça local, a coisa passa completamente ao lado.

Com tantas empresas espanholas a operarem no mercado nacional, ou a controlarem empresas cá do burgo, o castelhano é, cada vez mais audível no dia-a-dia do comum cidadão e, qualquer dia, passaremos a entrar num qualquer café e pedir “una caña y un bocadillo de jamón de york con poca mantequilla”.

Afinal, quer-me parecer que as autoridades (in)competentes estão, uma vez mais, a fazer tudo mal feito e que o tal do acordo ortográfico devia ser alargado a muitos outros países, em vez de se limitarem aos que falam “português”.

1 comentário:

Anónimo disse...

A Língua portuguesa está a passar por um período de implantação, quer nos países Africanos de Língua Portuguesa, quer em Timor Leste. Na Guiné-Bissau esteve até para ser adoptado o Francês como língua oficial e em Timor-Leste o Inglês. Daí será fácil concluir que a língua portuguesa nas nossas ex-colónias não ficou muito bem cimentada. Esses países já não são colónias portuguesas, são livres e tanto poderão seguir o português falado em Portugal, por 10 milhões de habitantes, como o português falado no Brasil, por 220 milhões.

A teoria de Darwin é mesmo verdadeira e Portugal, se teimar em não se aproximar da versão de português do Brasil sujeita-se a ficar só e, mesmo assim, não vai conseguir manter a pureza da língua porque ela evolui todos os dias, independentemente da questão que agora se nos põe: todos os dias há termos que caem em desuso e outros novos que são adoptados pela nossa língua, em especial termos ingleses que são adoptados sem quaisquer modificações.

Se não houver aproximações sucessivas ambas as versões do português continuarão a divergir e daqui a algumas gerações serão línguas completamente distintas. Será então a altura de Portugal confirmar que saiu a perder porque ficou agarrado a um tabu que não conseguiu ultrapassar.

O Brasil tem um impacto muito maior no mundo do que Portugal, dada a sua dimensão, população e poderio económico que em breve irá ter. O nosso português tem hoje algum peso muito em função dos novos países africanos PALOPs ) e de Timor Leste, mas ninguém garante que esses países não venham um dia a aproximar o seu português da versão brasileira e há até já alguns sinais nesse sentido. A população do Brasil permite altas tiragens das publicações que ficarão mais baratas e, se houver maior harmonização, as editoras portuguesas (e amanhã dos PALOPs ) poderão vender mais no Brasil.

Se Portugal permanecer imutável um dia poderá ficar só: a língua portuguesa de Portugal será então considerada uma respeitável língua antiga (o Grego é ainda mais), da qual derivou uma outra falada e escrita por centenas de milhões de habitantes neste planeta. O nosso orgulho ficar-se-á por aí e pronto!

Ambas as versões de português têm uma raiz comum e divergem há cerca de duzentos anos. Outros duzentos e já não nos entenderemos: terão que ser consideradas duas línguas distintas.

O acordo ortográfico é uma decisão apenas política e quanto aos linguistas, apenas terão depois que assimilar as alterações e segui-las. Por exemplo: não se poderá alterar por decreto que uma molécula de água passa a ter dois átomos de oxigénio e outros dois de hidrogénio; ou que 5 vezes 5 passa a ser 28 em vez de 25. Mas poderá alterar-se por decreto a grafia de "acção" para "ação" e quem não o aceitar a alteração passa a cometer um erro. Com todo o respeito, mas também não são os Juízes e Advogados que legislam, apenas têm que interpretar e aplicar as leis.

Portugal nada ganhará de imediato, mas tem muito a perder no futuro se rejeitar agora o acordo que o Brasil está disposto a aceitar.

Zé da Burra o Alentejano